quinta-feira, novembro 01, 2007

Carta ao rapaz atlante

Ao Ivan, em fraternas insularidades.

Rapaz atlante, era preciso que tivesse palavras para te dar. Que podes ter tu de mim que eu te dê?

Tu sabes da bruma e do cheiro que ela encerra, conheces as palavras guardadas no vento do oceano e vês para onde o açor vira as suas asas.

Eu não tenho mais tempo senão em que te diga aranha, orégão, odor. Tempo em que te fale da tarde e em que descreva as medidas exactas de um pateo grego.

Que há das máscaras, dos ditos, dos coros, que te diga em cima do palco de Dioniso essencialmente nu? Estou como quem não pode estar, na frieza de uma estátua grega de Praxíteles, certo como coluna no frontão do Templo.

Eu que sou do Branco e dórico no corpo, que há em mim que se assemelhe a teu passo invulgar de divindade celta? Não penso que haja palavras que nos possamos dizer.

A vida não é uma delicadeza que se lê numa elegância de fim de tarde.

Que posso eu que sou mar dar-te a ti que és também oceano? Atento como a onda quando quebra, escuta.

Et pourtant, est-ce que je peux aussi pleurer l'Atlantique? Je veux tellement rever l'infini.

1 comentário:

Adomnán disse...

Malgré nos différences abyssales, tu saisis tout a fait le sens profond de ce que j'écris. Tu es peut-être le seul à être capable de plonger dans le noir de mes mots, et d'y retrouver une sorte de vérité que d'autres ne cherchent même pas à comprendre.