sexta-feira, setembro 14, 2012

Pessoas

Das pessoas é isto que guardo- o gesto. Cada qual encerrado
Como uma coisa que acontece inesperadamente e que mesmo assim
Permanece há já muito tempo esperada.

As pessoas são espantosas ao atravessar as ruas da cidade, a guiar
Os carros da cidade, a encher os sacos de plástico comprados a
Dois cêntimos nos supermercados da cidade.

Tudo o que as pessoas vestem é belo, único e existe
Neste só momento de viver todas as coisas.
Tudo o que as pessoas escolhem é bom, justo e sensato.

Aquela mãe ali sentada, enquanto a criança lhe mama no peito
Neste pequeno espaço da paragem de autocarro, o banco
Amarelo donde ao lado o senhor corta despodoradamente as unhas dos pés.
É como uma partilha intensa de coisas, de vidas- ainda o gesto.

As pessoas são cheias de vida com mãos de agarrar, beiços que berram
Impropérios ao senhor da loja e corações constantemente batentes e que mal se sentem.

Como não amar as pessoas? Como um claustro de pensamentos reflectidos,
Com a água correndo pelas fontes, assim as pessoas- calmas e rápidas,
Cheias duma dinâmica pacífica e furiosa onde se pode adormecer a criança
Por meio da discussão com o marido.

Um cão ladra quando vê uma pessoa não por medo ou por resposta
Hormonal. Ladra de espanto, de maravilhamento por essa coisa única,
Sublime que é a pessoa. Quando lhe largará um osso ou uma bofetada
É a chave equacional que rege a vida do cão comandada por esse deus-pessoa.

Com que gosto mobilam suas casa, cadeiras na sala, camas nos quartos,
Colchas, almofadas e um quadro na parede. Medem os filhos, os luxos, os dinheiros
E os dias em que não há nada sempre em comparação com aqueles que compraram
A casa mesmo ao lado da sua- as outras pessoas.

Porque as pessoas amam tudo- só se escusam de amar aqueles, as outras pessoas.