segunda-feira, agosto 11, 2008

Deambulante na cidade ou Verbos que me vêm só por pensar em Lisboa enquanto é tarde

Diz-me um fado, um canto lento. Uma história do quotidiano. Quantas janelas tem Alfama enquanto o sol se põe? Umas abrem-se, outras fecham-se.

Ruas de Lisboa onde as perdesse, por elas ande perdidamente em busca de algo que chega até ao Tejo.

Cidade, mulher, como se fosse vida, como se fosse coisa com alma. Breve jóia, breve espanto de passar momentos duma tarde olhando-te do jardim do Príncipe Real.

Chãos de Belém, além o rio. Mar de casório com cheiro próximo de sardinhas a assar na brasa.

Escadarias de Lisboa onde diga Santos, Graça, Alcântara, Chiado. Para onde nos levam quando já nem os passos nos guiam? Eis janelas que se abrem enquanto passo pelos passeios estreitos da cidade. Cada janela é uma pequena vida. Quantas hão de passar ainda pelo caminho?

Lisboa sem noite, só em luz, possa eu dormir enquanto me velas. Quieto e manso, de mansinho conta-me histórias de vidas que há dentro de cada varanda da Mouraria.

E diz-me um fado, calmo e não calado, essa coisa lusa que vem de dentro e que aperta mais nos terraços da cidade quando a noite caí e traz essa outra luz.

quarta-feira, agosto 06, 2008

Canção do amor triste ou Versos de quem não soube amar

Rasgar-te-ei teu vestido, Raquel,

Hei-de rasgá-lo com força e fúria.


E agora minhas mãos sobre teus seios

E agora teus gritos que sufoco

E agora tua alma que se rasga

Nas mãos da minha.


Rasgar-te-ei teu vestido, Raquel,

Para que minhas mãos sejam d'homem

Enquanto to devassam

Para que minhas pernas sejam d'homem

Enquanto t'entrelaçam

Para que minha alma seja minha

Assim como perdes dentro de mim a tua.


Rasgar-te-ei teu vestido Raquel,

Sem medos, sem dores, nem culpas.

E sem suavidade, direi suavemente,

Enquanto soluças,

Amo-te!