sábado, maio 27, 2006

Assim, de repente...

Ao Luisillo.

Numa noite de calor fresco que nos sabia como a promessa de um banho de água morna que se toma de manhã e nos desperta os sentidos, deixámo-nos cair nas confissões. Foi uma noite de palavras- palavras que os dias que nos separavam pediam há já algum tempo. Foi uma noite lenta de intimidades rápidas e tão complexas que nos permitimos viver como as mãos escorregam pelo marfim frio de um piano para lhe roubar as notas mais fundas.

Podia ter sido nessa hora de calor insuportável, quando no relógio de García Marquéz batem as três, enquanto estávamos deitados nas redes dos nossos alpendres. Podiámos ter escolhido falar por aí. Mas esperar até ao calor tropical dos verões colômbianos ia demorar tempo de mais. E nessa noite fomos nós que construímos o tempo.

Os teus olhos nunca me mentem e o meu corpo cai de leve sobre o teu. O teu abraço surge de repente para criar espaço para as palavras. E assim, de repente, largaste as tuas palavras sobre mim com uma insustentável leveza. Numa noite de palavras, as tuas palavras tão poucas para que tudo continue bem.

Para mim também Tu és o mais importante!

quinta-feira, maio 11, 2006

Os Aristocratas

Estreou recentemente "Os Aristocratas".

Desaconselhado a pessoas sensíveis, "Os Aristocratas", é uma fabulosa viagem ao mundo da comédia e àquela que, provavelmente, será a maior piada do mundo.

Correndo o rsico mais perigoso no humor- que é o de falar sobre ele e de o teorizar- o autor deste genial documentário percorre todas as vertentes de uma única piada sem que ela nunca perca graça.

"Os Aristocratas" joga com os nossos preconceitos mais profundos e assim leva-nos numa interessante viagem aos limites e às barreiras que a sociedade e nós mesmos nos impomos.

Lie with me- Vem comigo

Provavelmente o filme já estará fora de cena. Mas se tiverem a incrível sorte de descobrirem que não está não deixem de ir ver.

Brilhantemente interpretado, Lie with me, é uma viagem ao mundo da linguagem sexual e da viagem que nos leva do sexo aquilo que pode ser o amor. De uma beleza estética impressionante e de um erotismo delicado e elegante é um filme a não perder.

segunda-feira, maio 01, 2006

Poema ao 25 de Abril

I
Espera que o sol seja muito quente
E então sai à rua.
Caminha pelo lado da sombra sem nunca
Tirares os olhos do outro lado.
Vê como o mestre-d’obras
Desenhou todas aquelas janelas
Só para que tu as pudesses ver esta tarde

Continua a caminhar.
Deixa que o cheiro,
Que de súbito se instalou no teu coração,
Te indique o caminho.

Quando chegares ao jardim
Atraído pelo cheiro das coisas frescas
Que vivem no calor da tarde
Senta-te debaixo da sombra do grande caramanchão
Que está no centro do jardim.
Ouve o riso das crianças que brincam no parque
À tua frente
Para aprenderes como o mundo é ainda jovem
E por momentos deixa-te levar.
Agora abre o livro-
Lê dez páginas e respira,
Respira fundo
E deixa que o sol profundo que se instalou
Entre as três e as quatro
Se instale também dentro de ti;
Que ele te invada o corpo.

O rio continua à tua frente
E a cidade pulsa agora nas tuas veias.
Por esta altura já todos os cheiros te chegaram,
As aves voam cada vez mais alto.
Respira fundo.

II
Quando abrires os teus olhos
Ainda prontos para ver tanta coisa
Lembra-te de Abril.
Lembra-te desse dia em que se começou
A construir a tua tarde.

Quando respirares fundo
Pensa nos capitães em suas chaimites
E deixa que o cheiro inexistente dos cravos
Te chegue ao nariz.

Olha agora o sol de frente,
Ele já não te pode mais queimar,
Agora, Abril construiu s liberdade.