segunda-feira, abril 21, 2014

Fragilidade

Como esta fragilidade de coisa morta em que
Lentamente algo perde sabor na boca por ser tantas vezes mastigado.
Esta renda tecida de mãos fiando cansadas como uma dia
Que passaras à janela e no fim das horas, em chegando a noite,
Me perguntaras- "Porquê?", e eu ficara calado.
Como dizer-te o enigma do desperdício num tempo que já não era
De palavras?

Ao pequeno-almoço não te saiam as mãos dos bolsos senão
Para afagares o gato e eu escolhia uma música da Gal,
Daquelas alegres e mexidas,
Porque este era um dia triste, imenso,interminável.
Não que pudesses dizer algo que repetir os erros meteorológicos
Da telefonia, mas eu querendo sempre mais, exigindo
Palavras de jogos maiores, que lentamente sufocavam
Aquilo que não me dirias estar sentindo.
Era como uma estação onde encontrasses um pequeno buraco
Junto à sola dos botins, um pé erradamente escorregado
Em água ainda calçado em meia, um grito que percebera
Abafado na almofada no instante em que desperto de tudo isto.