quinta-feira, outubro 28, 2010

Terribilíssimo

Amei-te no perfume ácido das laranjas

Por certo no Inverno,
Quando tudo esfria

E a cabeça tende a doer mais.

Terás o sabor ácido das laranjas
E isso é algo que já não vou nunca descobrir-

O teu corpo imaginado tantas vezes.

Ansiei mais pelos teus cabelos, no entanto.

Mas tudo era como no Inverno-
Frio, distância e desnexo.

Quem me dera guardar, flores secas entre os livros,
Para quando chegasse a Primavera.

Mas tudo era como o Inverno.

terça-feira, outubro 26, 2010

Ensaio em Gustavo

Como Gustavo conheceu Artur perto da perda de (um) Salvador mesquinho e de esquinas. De todas e tantas ruas- traçado geométrico do Bairro Alto. Fadista de encantos fanados. Como esta porta por onde entraram como se ainda agora mesmo os tivesse visto. E a correr- sobe e desce as ruas cheias de gente onde só estão eles- Artur e Gustavo. Dançando, dançando, dançando. Dancin' Days. Como mais uma novela barata- é assim que justamente os imagino, comos os entendo, como em verdade os escrevo e crio. Depois um beijo, dois três quatro cinco. Muitas línguas. Em palavras cifradas que na minha cabeça dizem um ao outro como se os visse, os ouvisse dizerem piropos banais um ao outro, piropos que numa outra realidade (como fora a deles criada por mim) funcionariam de facto. Aumento o já previsto, o visto de antes mais pela frente que dor detrás. De todas as coisas que vivem- agora manhã, um jipe- rumo à Peninha. O nascer do sol, um rumo de associações fáceis. O mistério, absolutamente inalcansável nestas palavras, em quase tudo o que escrevo. E ele, Artur, todo debruçado, todo misterioso sobre o inexistente Gustavo confessando o amor duma noite no cenário idílico onde só falta que a minha escrita tivesse qualquer qualidade.

quarta-feira, outubro 13, 2010

Poesia (morta) de Outono

Um poema escrito no Outono
Não trás em si nada de novo.

Coisa triste e seca
Que se repete sem cessar
Apenas porque tem que ser.

O homem que amava o que era triste

Aquele homem amava o que era triste.

E sendo jovem era seco,
Uma geografia sem casa ou
Poço construído.

Era um homem mais triste que a sua tristeza
E de vê-lo dava pena.

E sentei-me assim para escrever
Das coisas tão tristes que eu sei
Que ele sentia.

Quando já não consigo escrever

Migração das palavras-

Apátridas esperando um barco no porto.

segunda-feira, outubro 11, 2010

Imladris

Olha agora os olhos
Que olharam a luz das árvores.

Quem voltará atrás
Ouvindo os belos cantos
Que os elfos cantam há anos
Em Imladris?

Olha agora os olhos
Que olharam a luz das árvores.

Quem desejará o regresso da fadiga
E do cansaço dos dias
Quando hoje repousa
Em Imladris?

Olha agora os olhos
Que olharam a luz das árvores.

Quem ansiará pelo combate
Vendo a forja reluzente
Das espadas dos senhores dos Elfos
Em Imladris?

Olha agora os olhos
Que olharam a luz das árvores.

Além aguardam os portões que guardam
O resto do mundo.
Porque ninguém,
Por mais anelante coração,
Restará para sempre
Em Imladris.

domingo, outubro 10, 2010

De um ia em que não fui sozinho a Sesimbra

Que dirás tu desta tarde
Sobre as colinas da Serra?
O mar por certo batia em ondas
Sobre a estrada dos carros.
Mas só isso?
A tarde era maior sobre a casa
Sem que tu mesmo o pudesses reparar.
E se me tivesses dito nem mesmo ai
Os teus gestos seriam necessidades.
Eu já sei do dia de hoje como se hoje eu
Mesmo o tivesse vivido.
Não podes agora abandonar a ideia da casa alta
Voltada em seus terraços nivelados
Para o pateo.
Ali é por onde escorre a água pura
Destes risos que ouves incansavelmente por todo o lado
Como uns abdominais tesos e duros que
Nunca se cansassem do mais divertido dos exercícios.
Vês como é tão simples uma tarde
Esta mesma sobre a Serra?
Então porque não tenho vontade de palavras,
Mas apenas das coisas que uma a uma recordo
Como se fossem por mim chamadas?

quinta-feira, outubro 07, 2010

Mães e Muralhas de Atenas

Eis aqui onde a lança espartana
Conhece a muralha de Atenas.

Por onde todas as mães choram
Vieram os soldados semi-nus
Com uma fúria que mais tarde outros diriam
Parecer-se a um afecto enamorado.

E deleitaram-se em Atenas todas as donzelas
Que esperavam sobre todas as varandas.