segunda-feira, novembro 21, 2011

O meu amigo Q

Para Q, de quem já tinha saudades


O meu amigo Q voltou. Andou lá por fora e voltou. Foi "viajar, perder países", porque o Q é um homem mais que moderno- urbano. Q tem um apartamento novo num edifício antigo que decorou com cuidado e gosto. Nada é por acaso nos metros quadrados da casa do Q à excepção dos cocós do cão, que de resto já nunca se vêem. Como homem urbano Q veste bem. Tem uma colecção imensa de camisas penduradas em cabides apoiados nos puxadores das quatro portas da casa. Na verdade, Q tem tanto gosto e tanta roupa que não dorme num quarto, mas num walk-in closet. A acompanhar a roupa Q tem uma colecção admirável de acessórios: um cão lindo e eléctrico; um namorado super divertido; uma irmã fabulosamente elegante e que anda sempre tão bem vestida como ele; amigas engraçadas, giras e bem-dispostas que compõem imenso o quadro. Q tem uma família que adora, cresceu na verdadeira Alta de Lisboa (o triângulo Campo de Ourique-Amoreiras-Campolide) e é um homem educado. Tem um belo emprego e vai para o escritório num óptimo carro que é da empresa. Q gosta de moda, não vê programas parvos na tv, papa séries pela net, tem uma estante com livros do Pedro Paixão por baixo dos livros do Harry Potter e organiza jantares de aniversário no Bar do Peixe em Novembro porque toda a gente com gosto sabe que estar na praia (nunca ir à praia) no Inverno enrolado em camisolões é imenso chique. De Q pode dizer-se que tem alma de pássaro e por isso podia bem ser uma personagem dum romance de Margarida Rebelo Pinto.



De Q pode dizer-se isto, mas dirá quem não o conhece. Q é um amigo. Q andou por fora e nós não andámos mais tristes, mas por certo andámos menos alegres. E percebemos isso quando ele voltou. Q deixa-nos alegres e sempre com muitas gargalhadas na boca. Porque o meu amigo Q tem isso com ele- ele faz bem aos outros, faz genuinamente bem aos outros. Como é que ele faz isso não sei. Tão pouco acho que ele mesmo o saiba. Mas fá-lo melhor que toda a gente que conheço. Mesmo quando Q está sério, está alegre, mesmo quando está triste está ainda assim alegre. Isto não quer dizer que Q seja um tolo. Quer dizer que eu acho que Q é uma pessoa genuinamente alegre a quem o sorriso sai sem esforço porque a vida lhe dá razões para isso. Na vida de Q também deve haver chuva, dias em que o café se entorna nas calças, conversas desagradáveis e decisões difíceis, mas a sua alegria sobrepõe-se a isso. Eu e Q não somos os amigos mais íntimos, não partilhamos segredos, não trocamos confidencias. Eu e Q somos amigos e Q faz-me bem. E eu e já tinha mesmo saudades e ele voltou e faz-me mesmo bem!