sábado, julho 08, 2006

Viagem em Lisboa, em torno de nós mesmos

Para Sara Guia d'Abreu, com toda a minha admiração.

Há no teu nome uma melodia delicada, como as notas que o Tom desenhava no piano.

Viver-te é como ver Van Gogh a pintar uma tela cheia de cores. O teu vestido enrosca-se por nós nos bares do Bairro Alto, mesmo quando não o trazes e o som dos teus risos vai além da noite, até às minhas tardes de Junho para nelas derramar o sol eufórico como as músicas da Ella. Como se eu agora fosse o Sinatra e tu a Fitzgerald a cantar "The Lady is a Tramp" e isso nos lembrasse de súbito de um tempo em que eles ainda não nos existiam.

Agora temos o corpo deitado na relva (mesmo contra as ordens do sr. Agostinho) e o muundo que vemos para lá dos óculos de sol é ainda muito fosco e tem continuamente o toque do liceu a pautar-lhe os ritmos. É um tempo delicado de já não infância mas ainda de crescimentos. Tu guardas nas mãos algo. Ofereces-me as primeiras palavras.

Agora eu estou sentado numa grande poltrona, é uma sala velha dum palácio do Bairro Alto. Tchekov está ao meu lado e tu simplesmente não queres mais Ivan Vasilievitch.
Dás-me a mão para corrermos até ao teu sofá nas Ruínas do Carmo. agora vemos o Tejo todo. Tu dizes que o Tejo continua a ser o grande rio da nossa vida, que é a vida de Lisboa. E enquanto Lisboa namora o Tejo há vedettes que se abanam sobre os seus cariocas de limão escondendo estórias de tabus e mariscos. Nós gastamos a tarde a despechar confissões nas nossas chávenas de chá, porque já estamos sentados numa varanda às Escolas Gerias, mas ainda a ver o Rio.

Vivemo-nos só de vez em quando, mas olha como a cidade dança connosco os choros do Tom quando estamos juntos! E assim, viver-te é cada vez melhor, com o rio, com as flores, com os risos, meu encanto de cantos tão distantes, amiga de ontem e hoje, tu que me inspiras quando fazes biquinho enquanto lembras a Ivan Vasilievitch que são teus os prados de Valovyl.

2 comentários:

colher de chá disse...

Agora as palavras deixam de existir para sobrevoarem a cabeça e encherem os corações.
Enches as minhas tardes com o Tejo e Ella a cantar, tocas-me uma valsa, danças-me até amanhecer.

Um sincero Obrigada,

pelo que escreves, pelo que somos ao fim de tto tempo, pelo que és simplesmento sendo,
pelo sol, pela lua, pelo chá, pela relva, pelo calor, pela harmonia, pela cumplicidade, pelos pés descalços na areia quente.

Gosto de ti.

polegar disse...

é assim a magia de uma amiga que salpica o mundo com as suas sardas em jeito de pozinhos de perlim-pim-pim :)