sexta-feira, dezembro 29, 2006

Das coisas que há no mar e nas ilhas guardadas na minha infância das primeiras horas

Busco um tempo fértil de palavras
E procuro em mim a hora da minha infância
Que tenha em si guardada
O início da poesia.

Hoje o poema diz-se em mim devagar,
Como uma onda que vem leve,
Mas que leva o verde das serras até ao mar.

Sophia fala-me de mansinho

Duma terra que eu amo de pés molhados.

Construo o poema num equilíbrio delicado
Entre a infância, o Verde e o eu.
Desfaço ligeiramente o novelo dos primeiros dias
Onde em suas linhas encontre as horas que me falam das palavras.

Em campo fértil de palavras
Meu labor árduo
Meu encanto em sangue
Minha dor de escrever
Dizer poema
Para vê-lo escrito
Perdidas horas de infância
Que agora me oferecem as coisas que há no mar e nas ilhas.

Mar

Dá-me palavras-plantas,
Pedras, rios
E diz-me de coisas que cresçam
Com a leveza furiosa das ondas

Meu corpo
Ilha nas ilhas
Água, parte do mar
Mar em si

Imensa sucessão de palavras
Imensidão. Micro-cosmos.
Palavras-plantas que me digam ilha.
Talvez eu
Eu e o mar
Perdido no mar que sou eu.

Descoberta,
Corre em mim o sussurro lento das ribeiras.

Sou como as trutas do Ribeiro Frio:
Nado sem destino, mas sei que nado.

E o dia (re)nasce ,
Luz que bate nas águas
Do mar que sou.

domingo, dezembro 24, 2006

Feliz Natal!

A vasta equipa d'"Enquanto Lisboa namora o Tejo..." (que sou apenas eu) agradece a amizade de todos os seus leitores e a todos deseja um feliz Natal!

Faz-me falta um fado

Para ti, minha companheira de fados.

Agora falta-me o fado

Quando começo a ter saudades de ter saudades

Quando o meu corpo te sente a falta

E alguém geme numa guitarra

As palavras que gostava que fossem minhas


Agora falta-me o fado

Nas noites longas do Inverno

Uma dor que aqueça a minha

Na nudez de uma cama vazia

Onde a saudade me adormece


Agora falta-me o fado

Quando me esqueces não sei onde

Nos braços não sei de quem

E meu coração magoado

Anseia por ti só

E mais ninguém.

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Nós

Ao Luisillo, que bem mais que o meu silêncio é a fonte de todas as minhas palavras.

Meu sonho de Verde,
Nossas verdades.

Escreves palavras em cada acto que tomas,
Nosso secreto vocabulário.

Os olhos, uma nova gramática.
Em ti meu campo lexical de palavras.

Teus braços
Que me abraçam
Enquanto me falas
Sem palavras

Só os olhos

Nós os dois

A noite, mais nada.

Vem de ti a palavra.
Dizes!

Para mim és o mais importante.

Paixão urbana

Para o Ricardo Proença.

Levas a passear
Minha paixão urbana
Pelas ruas da cidade
Enquanto me beijas nas salas de cinema.

Orquestras as cores que existem
Numa elegância delicada
Como o céu pintado numa galeria da Baixa.

Não te perco,

Deixas-me

Teu corpo, o meu
Tão poucas as palavras perdidas entre as horas

Nas horas da cidade
Não te deixo

Guardo-te

Como a elegância dum gelado comido em Novembro.

De mim te dirá
A cidade que me ofereces devagar,
Um Natal precoce e longo.

Peço-te

Sabe esperar na cidade a minha hora.

Insular

Para a Rosa Carreiro, que conhece os segredos das ilhas.

Teu sorriso leve
Dum canto do Verde
Que Lisboa não te roubou
Perde-se nos teus cabelos
Numa esquina do Chiado

Teu peito carrega um duplo amor
Uma força insular
De ser ilha mesmo além das praias

E assim, quando andas
Pelas ruas estreitas do Bairro Alto
Ondas rebentam aos teus pés.

Porque teu corpo e tu
Vivem de dois mundos
Amor de quem nasceu a cheirar o Verde.

Dos segredos que habitam as palavras

Para a Sara Guia d'Abreu.

Das palavras me dizes
Da tua ânsia delas
Que nelas repousa

Teu sentir escreve-se nas palavras que buscas,
Um livro branco de Yourcenar,
Uma água doce.

Encanto das tuas cores
Na demanda incessante das palavras
Que a poesia te traz.

Gastas as tardes dos teus junhos
Guardas as tardes dos teus junhos para as palavras

E mesmo embalada no calor vivo
Das três horas da tarde
Teu livro não cai da rede onde dormes.

Perdida entre as palavras,
Tuas rússias distantes,
Estórias antigas

Buscas algo que te faça
Saber passar a barreira
Inultrapassável das horas.

Das palavras me dizes
Quem perde, quem acha,
Quem busca,
Suaves grafias
Em que se recorta a vida,
As palavras!

sábado, dezembro 16, 2006

Sentir

Para a Rosa Carreiro a quem descaradamente roubei estas palavras.

Mantens-me em palavras poucas

Enquanto me fazes desaprender a falar

Entregas-me à força do teu corpo

Os teus braços

A minha cintura

Nós

E levas-me a necessidade das palavras

domingo, dezembro 03, 2006

sábado, dezembro 02, 2006

Just like Marie Antoinette. Retrato de elegante no Lux.

Leva-me a dançar ao Lux, she said just like Marie Antoinette.

Lá fora, além das janelas cruas, a chuva cai cortante como ela. Uma maravilha de vidro e betão- ela e o loft. Na imensidão dum espaço criado para ser vazio como ela, nem um olhar. Para quê gastar os olhos verdes? As suas palavras escorregam pelas paredes frias. A sua vontade escorrega soberana até ele, just like Marie Antoinette.

Vestida como quem nasceu para ser de frio ela entra. Não há palavras, só olhares. Os dos outros, os seus nunca se desperdiçam. O corpo perfeitamente equilibrado sobe as escadas num dança ondulante retorcida pelos espelhos. Ela ama-se até à infinidade em que a sua imagem se reproduz.

Pisa o chão como quem pisa a vida. Afinal ela é tão superior a tudo, just like Marie Antoinette. Nos lábios um São Francisco, o álcool já é demasiado vulgar. Senta-se. Não olha em volta. Não faria sentido. Ela pertence, não observa. De resto, ela já conhece tudo de olhos fechados. Tudo guarda a mesma elegância urbana que é a sua. Nem a música a faz mexer.

Na sua perfeição um vestido de veludo escarlate apertado no peito, escorregado na cintura, caido nas pernas. Uma ligeira ondulação- no vestido, nunca nela. As meias pretas. Os stillettos encarnados. No decote uma jóia de Lalique. Sobre o peito fiadas de pérolas negras. Os cabelos serpenteiam em volta da nuca, just like Marie Antoinette.

Levanta-se. Desce as escadas com uma elegância superior. A pista escura, as bolas giram e brilham. Tudo é belo e vibrante. Ela vibra na música que lhe entra pelo escarlate do vestido.

O corpo perde o controlo de si mesmo. Ela agita-se na pista em perfeitos movimentos ondulantes. O calor de tudo toma-a cada vez mais. O vidro da sua pele derrete. Ela ainda dança. Torna-se real. O olhar dela cruza-se consigo mesmo nos espelhos dos outros. Ela ama-se até à infinitude do seu reflexo, just like Marie Antoinette.

Agora ela está no seu elemento,

just like Marie Antoinette.

Lá onde passa o rio da minha aldeia

O rio da minha aldeia quase não existe no Verão, mas no Inverno as chuvas enchem-no e ele corre entre as pedras até ir desaguar noutro rio que eu não sei.

Às vezes gosto de olhar o rio da minha terra, no enclave em que nos abandona. E então deito-me a pensar em memórias de infância que vou fabricando enquanto a tarde me deixa.

O rio da minha aldeia faz-me lembrar o cheiro da compota e as horas de espera para que a compota fique pronta e as estórias que uma avó me contaria numa cozinha velha até as horas acabarem. Faz-me pensar em brincar no coreto com os outros meninos e jogar ao pião e ao arco e a coisas antigas de que os rios estão entranhados por força da sua longa vida.

O rio da minha aldeia vai furioso no Inverno, mas só me lembra coisas calmas como dias de escola com a chuva a bater nas janelas e as horas a morrerem no grande relógio ou em noites frias de nevoeiro com o corpo esticado à lareira.

O rio da minha aldeia nada sabe do que está para além do rio onde desagua e que eu não sei. Não sabe de Lisboa, nem das suas cores nem das coisas que eu gosto e que quero para mim, por isso eu não quero o rio da minha aldeia nem ele me quer, porque não tem nada para me dar. Mas há tardes em que olho o rio da minha aldeia e imagino...

Killer Queen

Ao Ricardo, que me apresentou a esta música.

"She keeps Moet et Chandon
In her pretty cabinet
'Let them eat cake' she says
Just like Marie Antoinette
A built-in remedy
For Kruschev and Kennedy
At anytime an invitation
You can't decline

Caviar and cigarettes
Well versed in etiquette
Extraordinarily nice
Chorus

She's a Killer Queen
Gunpowder, gelatine
Dynamite with a laser beam
Guaranteed to blow your mind
Anytime

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Insatiable an appetite
Wanna try?

To avoid complications
She never kept the same address
In conversation
She spoke just like a baroness
Met a man from China
Went down to Geisha Minah
Then again incidentally
If you're that way inclined

Perfume came naturally from Paris
For cars she couldn't care less
Fastidious and precise
Chorus


Drop of a hat she's as willing as
Playful as a pussy cat
Then momentarily out of action
Temporarily out of gas
To absolutely drive you wild, wild
She's all out to get you
Chorus


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Insatiable an appetite
Wanna try?
You wanna try"