segunda-feira, setembro 24, 2007

Just like Marie Antoinette. Retrato de elegante no Lux. (Revisited)

Leva-me a dançar ao Lux, she said just like Marie Antoinette.

Uma maravilha de betão e vidro- ela ou o loft? A chuva que escorrega pelas janelas, ela que nunca escorrega por lado nenhum. Ela existe. Há o espaço exacto do vazio da sua presença. É por lá que ecoa a sua voz. As palavras nas paredes. Algo chega até ele. Ele cuida dos gestos quotidianos: o casaco, o guarda-chuva, as chaves do carro. Ela existe. Imensa, soberana, imperial, just like Marie Antoinette.

Ela está próxima das pessoas. Nunca pode estar entre elas. As suas linhas são distantes demais para que possa existir no meio das pessoas. Há os risos, os olhares. Para ela, nunca dela. Os seus olhares não se desperdiçam e as suas palavras não são palavras, mas desejos.

Há um equilíbrio delicado (e medido) enquanto sobe as escadas. Estas ou as de qualquer rua de Lisboa. A subida de uma escada é um espaço onde a elgância pode viver. Ela é curva como os espelhos onde encontra a projecção de si mesma. Eles não lhe mentem. Ela ama-se até à infinitude do seu reflexo, just like Marie Antoinette.

Pisa o chão como quem pisa a vida, agarra o copo como quem prende algo seu entre as mãos. Despeja nos lábios algo inútil. Nunca nada será tão seu como ela própria. O corpo meio estendido sobre um dos sofás. Ela pertence, não observa. Ela também é a elegância urbana do espaço.

Vêem-na, olham-na, observam-na. Talvez a desejem. Nada a preocupa, just like Marie Antoinette. Pelo corpo um vestido de veludo escarlate, perto do peito, solto na cintura. O vestido ondula, ela não. É estática como qualquer peça dali. Caem-lhe três fiadas de pérolas e no decote uma jóia de Lalique. Pelas pernas os collants pretos e os stillettos encarnados.

Nunca se farta, mas cansa-se por vezes. Levanta-se. Outras escadas, a mesma elegância. Os seus gestos são uma repetição de todos os outros. Na pista tudo se mexe. Ela fica parada. As bolas giram depressa demais, as luzes brilham demasiado. Tudo é rápido. Ela é exacta.

As pessoas teimam em existir à sua volta. Alguém lhe toca. De repente, ouve a música. O corpo dominado desprende-se. Ela mexe-se. Uma maravilha de betão e vidro- o loft; ela derreteu por entre a pista. Agora dança. Freneticamente como as luzes. Os cabelos existem. Ondeiam. Ondulam-se. É real. Mas é só um instante. Os espelhos não mentem. Ela ama-se até à infinitude do seu reflexo, just like Marie Antoinette.

Há-de voltar ao seu elemento,

Just like Marie Antoinette.

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