À Rosa Carreiro.
Há por aí uma bela dona que me chama de poeta.
Não me insultes de maneira vil, dona rica. Não quero ser poeta, não quero.
Ser poeta é andar de cabeça perdida, sem cabeça talvez e não ver as cores havidas das coisas vividas de cada dia em mim.
Ser poeta é saber significados ocultos, palavras, tumultos, que os ferem a eles mais do que a nós. É dar nós em pontas de facas. É ser esmoleiro, alarde, aldrabão.
Ser poeta é ser vendido às coisas do havido. É ser poeta repetido e reclamar uma invenção.
Ser poeta é tanta coisa sem saber se é pouca, se muita, se tanta, se coisa alguma. É andar perdido e gostar-se de lá estar.
Ser poeta é fazer más rimas, é criticar em palavras finas as finuras d'outros que tais.
Ser poeta é soltar ais. Ais que não são nossos, dores que não podemos haver.
Ser poeta é tudo isto, é pior ainda talvez. É uma história nunca finda, viagem morta de vez.
Que'é ser poeta não sei. Não sou, não quero, não posso. Falta-me o orgulho moço de por dados a rolar em mim.
Por isso te peço bela dona não me chames poeta ainda que em tal palavra finda dar-me meu triste fim.
1 comentário:
OLá,
Ligeiro, divertido e bem escrito. Gostei. Afinal, a dama tinha razão...:)
Abraço
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