quinta-feira, julho 22, 2010

A Cidade

Esta cidade de prédios altos.

Como as praças, espectacularmente grandes, onde leio os outdoors distribuídos. Casa fica em todo o lado- desde as avenidas vivas aos becos de má morte logo ali ao canto.

Aquela mulher mora aqui. É fantasticamente bela. Usa um vestido elegante de griffe e um perfume assinado por um couturier de Paris. Para falar sobre ela escreveria muitas palavras em itálico onde estariam todos os galicismos que ela usa. É chique, como se diz.

Aquela mulher nunca apanha o metro. As estações meio sujas e defectas. As pessoas suburbanas e pendulares. E é tão complicado usar uma máquina de bilhetes. É que estragam as unhas de gel.

Às vezes a cidade tem casas antigas. Lá dentro fazem-se fotografias de moda. Os salões rocaille ficaram subitamente todos brancos e vazios. É assim que hoje se fotografa a moda. A moda da cidade é branca e preta, mas sempre clean.

Os autocarros não são nada cleans. Nunca vão estar na moda. No Inverno são particularmente molhados e de Verão são abrasivamente quentes. Os autocarros nunca param mais que três segundos e vinte décimas nos bairros elegantes da cidade. Tanto nos que têm casas antigas, como os que têm penthouses modernaças.

Os cafés do Uptown são elegantes. Servem macarons franceses de diversas cores e scones com manteiga derretida. As bocas dão trincas muito leves e muito curtas. Aqui debica-se.

Nos bairros da classe média a crise abica-se. Come-se à fartazana nos fast-food logo assim que se sai dos ginásios imitados dum Holmes Place. Há sundaes entupidos de chocolate para os mais gulosos e chantilly que chegue para todos. Têm a cara enfiada na comida e a bocarra sempre aberta.

Os prédios distinguem-se entre agradáveis apartamentos ou atarefados escritórios. Ali vive-se, aqui trabalha-se. Desfruta-se mais daqui, do que dali, no entanto. Os arquitectos fizeram prédios todos de vidro e escreveram sobre teorias novas. Agora as pessoas podem viver em casa e no escritório. Os prédios já são todos iguais.

Passam os carros de luxo, os autocarros, os táxis, os eléctricos, as carrinhas, as vans, os cabriolés, os comerciais, os modelos mais baratos e os caros e os assim-assim, todos com rodas e motores e buzinas. Todos a produzirem som, muito som, enfurecedoramente som. O som de cada rua e prédio da cidade desde as avenidas vivas até cada beco de má morte.

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