domingo, março 14, 2010

Verão

Quando era novo e havia dias de sol, descia sozinho até ao calhau. A vila era o espaço da primeira liberdade. Conhecia as escadas, os caminhos e entrava nas casas que deixavam as portas abertas. Quando chegava ao calhau estendia a toalha. Havia sempre alguém no calhau. Na vila todos se conhecem. O corpo ficava levemente estendido ao sol, salgado de banhos longos e ondas perfuradas. Tudo era tranquilo.

Ainda hoje procuro um estrado onde deitar a toalha e esticar o corpo ao sol no calhau. Olhar o mar que chega até às cidades e deixar-me ser feliz por ainda não lá estar. Hoje já não tenho a minha namoradinha dos sete anos e em muitas das casas as portas fecharam-se porque as pessoas morreram. Mas ainda há portas abertas por onde se pode entrar.

A ilha da Memória jaz eterna na Infância.