quinta-feira, outubro 04, 2007

Retrato de rapaz em algumas variações (Revisited)

Guardo uma imagem em mim:

Uma janela (alta, grande e de vidro); um jardim (que é como se a vida acontecesse além de tudo isto); ele.

Que ele exista não é mais que uma quase certeza. A banalidade do que veste torná-lo-ia real, não fosse a abstracção com que se coloca exactamente no meio de tudo.

Ele está em todo o lado (por todo o lado) sem que possa existir sequer aquém de si mesmo. Que o corpo esteja largado a uma canto (contra a janela, contra o jardim) não é mais que um pormenor. É estruturalmente clássico sem que deixe de ser desejosamente latino. É o seu corpo que o diz além do terceiro botão aberto da camisa.

Anseio mais pela sua imagem do que ambiciono o seu corpo. O mármore das estátuas é sagrado demais para que se lhe toque e o fogo dos deuses trar-lhe-ia um calor humano demais para que não se perdesse. Ele deve existir acima de tudo mesmo que para isso não deva existir.

É sumamente belo. É sumamente arrogante. É sumamente divino. (e todas estas coisas existem em consequência umas das outras)

Se vive nem quero saber. De pouco me vale aquilo que nele há de humano.

A sua imagem. Apenas a sua imagem. Continuadamente a sua imagem...

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