Perto de uma grande parede de vidro o seu corpo resta, como que jogado, a um canto. A sua expressão é ao mesmo tempo distante e orgulhosa. A perna direita flectida ao alto, a esquerda ao lado. É como se alguém o tivesse perdido ali e ele tivesse desejado permanecer perdido. Ali ele está perdido dos outros, mas não de si mesmo. Palavras repetem-se constantemente na sua cabeça e a consciência de se saber simultaneamente divino e rejeitado aflora-lhe a arrogência. O ar arrogante torna-o desejável porque distante e de certo modo inatingível. E isso desperta em mim uma vontade de ver a baixo do terceiro botão aberto da camisa. O corpo está exposto na camisa amarela e aberta e há nele uma doçura clássica e latina, num peito ao mesmo tempo másculo e delicado.
Eu desejo-o, é certo, para mim. Mas ao mesmo tempo, ainda assim, não o quero tocar. É como se desejasse apenas a sua essência. E mais que tudo a sua suma arrogância de estar ao mesmo tempo alheio e atento ao que se passa à sua volta, como se os olhos não soubessem o que sabe o corpo.
Guardo agora a sua imagem junto à parede de vidro. Lembro apenas o divino. De nada me serve nele o que é humano.
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