quarta-feira, setembro 03, 2008

Digo-te: anseio!

Para Sara Guia d'Abreu

(Procuro uma posição na cadeira para escrever. Vou escrever rápido para que as palavras não se percam. A tua música corre no computador: "Un jour triste". Eu começo)

Amanhã será dia, como hoje foi. E não será como o hoje, nem como o amanhã do amanhã. Será dia como terá de ser. Cada dia com suas palavras novas de dizer e de calar.

Digo-te: da minha janela vê-se o mar e na ilha a noite chegará em duas horas. Há nuvens e não há sol. Amanhã haverá sol? Quem sabe se na minha janela amanhã haverá palavras para que eu me debruce no parapeito e diga "Hoje é um dia de sol!"

Tenho o corpo deitado sobre a cama. Tapei a janela com os taipais da janela. É de tarde porque em mim, enquanto escrevo, já é amanhã. É amanhã como digo e estou deitado, de tapais tapados, tapando a janela. Entra uma luz fina porque as cortinas são finas como a luz. Eu estou parado na cama, de corpo para cima e a luz enche-me. Estou a criar palavras.

De onde as palavras nascem é algo que não posso dizer: se da luz que amanhã me virá ao quarto se da música que corre agora, hoje, pelo computador e por mim. Não estou ligado à máquina, mas à música e talvez da música às palavras.

Digo-te hoje, julgando que é a tarde de amanhã: palavras de ser adolescente e estender o corpo no relvado do liceu; e medo do teste que vem; e o primeiro copo e a primeira noite; e confissões e risos; e tantas coisas de ser feliz e triste ao mesmo tempo; e digo tempo de conhecer e saber; tempo de amar e de criar. E lembro com saudade e sem mágoa palavras de ontem que não voltarão a ser hoje nem amanhã, nem mesmo no amanhã do amanhã.

Lembro-as hoje, sentado ao computador com medo que fujam, ou deitado amanhã à tarde sobre a cama. E seja onde for estico o braço e tu estás lá, porque são palavras de dizer que te amo e que me lembro.

2 comentários:

Nhoca disse...

E olha eu a dizer, neste início da tarde de hoje que é a de amanhã na tarde em que escreveste, que há muito tempo, há muitas manhãs, tardes ou noites, que não lia nada tão bonito.

Finalmente conseguiste surpreender-me pela positiva alegre, com um texto teu, que tem tanto sentido como a tarde que aí vem...

Grande juri...GRANDE juri...

colher de chá disse...

para mim... será que mereço? e será que..?

obrigada.

que palavras tão belas, tão tuas, tão nossas, tão diurnas.

um beijo