segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Amar e um piano

Os dedos esguios buscam nas teclas frias do piano o calor da carne dela enquanto ela se contorce sobre si mesma numa dança lenta, mas contínua. É como se ela se entregasse a ele entregando-se ao piano e à música que ele desenha sobre as teclas. Ele busca-a incessantemente no piano e conhece cada curva do seu corpo através de cada nota.

Ela tem um corpo esguio e magro. É como se fosse uma flor de cristal e a todo o momento restasse o perigo de partir os braços. Mas os braços não se partem voam. Ou esvoaçam parecendo que voam. Ela embebeda-se na música dele, doce, suave, calma, como uma primavera que de súbito tivesse chegado mais cedo. Os dedos dele nunca se alteram só a música cresce e se transforma, agora intensa, depois não tanto. As musas vêm buscá-la. A música transporta-a a algo divino, ascético. O corpo não pára jamais. É como se continuadamente fizesse amor com a música, com o piano e por fim com ele. É como se ele lentamente a conhecesse, a masturbasse e finalmente a penetrasse em cada tecla.

Ele toca, ela dança. Olham-se, anseiam-se, desejam-se, mas jamais se tocam.

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