sábado, janeiro 13, 2007

O Chá

Lisboa entardece no frio do seu sol de Janeiro. Entregas-me a uma esquina esquecida da tua rua. Há, de súbito, um cheiro que me alerta os sentidos. E de repente folhas de chá dançam-me com a coreografia milenar das mãos que as colhem quando o sol vem aquecer a Primavera, lá do outro lado do mundo.

O chá é como um líquido sagrado dos deuses com culto próprio. Uma palavra para mim: saboreia. Leve e suave, pequenas agulhas de prata. O chá entra delicadamente por mim, descobre-me. Primeiro o o nariz, os olhos, depois a boca e as mãos. O meu corpo tacteia o chá levemente, enquanto os meus dedos se prendem em torno de um corpo de vidro quase orgânico pousado numa folha de cobre.

Deixo-me estar mais um pouco nesta elegância descoberta de repente, mas com o cuidado de quem sabe apreciar as coisas. Fecho os olhos. Tudo me inunda. Um cheiro que quase se bebe em antecipação do que está para vir.

Palavras arrancadas a custo, numa altura que não é de palavras, mas de sentidos. Sentidos que me enleiam e que me levam. O chá...

P.S.- Não deixem de ir ao "Chá não falta" numa das esquinas da Andrade Corvo.

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