sábado, janeiro 27, 2007

Em dias que guardamos para nós

Hoje abandonei-me do mundo. Vim viver um bocado em mim. Deixei-me ficar na turbulência deliciosa e mansa de quem acorda e adormece entre as primeiras horas de sol. Dormi sem ninguém à minha espera e acordei quando esperava por mim.

Li, li muito, deixei-me ler. Perdi horas de livro na mão, enquanto subitamente andava lá por Alexandria entre uma Grécia que já não existe e uma cidade que só nós fazemos existir. Perdi-me por lá e demorei a voltar.

Voltei para escrever. Fui buscar palavras às salas da casa que ainda deixei na penumbra dos estores meio corridos. Achei-as em breves raios de luz que furavam caminho. Sentei-me para escrever cartas e escrever sobre escrever. Que encanto pensar em nós num dia que para nós guardámos e saber como gostamos do que fazemos.

Ouvia. Algures pela casa, nos caminhos do corredor, chegavam-me as vozes das divas que de manso me cantavam Vinícius. Deixei-me embebedar de leve numa dança que ainda não conheço, mas que o meu corpo soube bem desenhar.

Com a tarde regresso. É preciso espreitar o mundo pela janela e deixar a luz correr pelos estores agora abertos. Lá fora o dia, a vida- encontro-me.

1 comentário:

colher de chá disse...

em dias como esse, o mundo acorda só para nos receber, o sol sorri e abraça-nos de mansinho. em dias assim, as palavras surgem como a melhor das companhias, como de resto, o provas aqui mesmo.
um beijo, e que venham mais dias como este.