Para a Raquel Eugénio, que partilha comigo este gosto por fadistices e que me falou de Mafalda Arnauth.
Preparo a casa e preparo-me a mim. O silêncio. Pelas janelas entra o sol e o já quase calor das três da tarde, ora mágica dos latinos em que se tecem os sonhos reais. A luz prende-se nas cortinas e eu deixo que durma.
Ligo a aparelhagem. Deixo que o som me inunde, deixo que se transforme em música dentro de mim. Mafalda Arnauth canta com alma ao som da guitarra portuguesa. É uma música muito antiga que os seus dedos desenham há coisa de uns anos. Mas é como se estivesse estado sempre lá. A música de Mafalda Arnauth não tem tempo- é de sempre, porque é uma música que conhece a essência do Fado, sofrido, cantado, rido, mas acima de tudo vivido. Os fados de Mafalda Arnauth oferecem acima de tudo uma vivência essencial do Fado.
E eu ouvia-a. E fui lusitano, caminhei sobre Lisboa, dei bom dia à varinas, escutei os pregões, roubaram-me os maridos, chorei muito. Estava lá tudo para que não faltasse nada. E no fim acredito como ela, "Bendito Fado, bendita gente!".
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