sexta-feira, maio 28, 2010

Da Lua Nova sobre uma música que Daniela cantava

Para D., enquanto ouvia as suas músicas.

Olha, meu amor
Hoje vem a Lua Nova.

Namorámos a cidade
Lento a lento
Comendo o prazer de cada rua
Como a ambrósia irrepetível
Dos deuses.

Do Olimpo algumas cores
Como um quadro que pintaras
Lá longe
Quando os dias eram outros.

Deste se dirá rosa,
Daquele branco e daqueloutro amarelo.

São as janelas da cidade, meu amor.

Mas eis que vem a Lua Nova!

Meu corpo apartado do teu

Escuta ainda a tua voz
ao longe
não distante
Como canto de matar
Saudade.

Como canto de dizeres-
"Hoje-me aqui, meu amor.
Não me vês, mas ouves-me.
Ouves como canto para ti nas
Noites diurnas da cidade.
Até mesmo nesta em que hoje
É Lua Nova."

Fora eu de novo menino
Assim, como era no mar da infância
E de rir e de brincar
E de jogar as pedras e as palminhas

Cantavas para mim, meu amor?
Cantavas para mim ainda que
Fora menino
E sendo a Lua Nova tivera medo do
Papão?

Dizes-

"De nos sonhos
Nada se tem medo.
Estão nos sonhos as máquinas para fazer o mundo
E eu estou sempre nos sonhos
Para que possas encontrar-me."

Eu pergunto:
Mesmo hoje que é a Lua Nova
Sonhamos juntos, meu amor?
"Sim, mesmo hoje que é a Lua Nova
Sonhamos juntos, meu amor."

(E dizes-me ainda:)

"Ouve agora como quando me vês
Perto do gradeamento
Chorando à paisagem idílica da cidade.

Ouve agora dos poemas brancos
Que te canto
Sente-me perto
Sempre perto
Porque agora,
no fim das palavras que se dizem,
Aqui
onde o silêncio começa,
Já quase não há a Lua Nova.

sábado, maio 22, 2010

Do choro, lágrimas

Tivera hoje como uma vontade de chorar.

Não que houvesse razão, mas assim se dera.

Chorava, pois.

De manso, choro conjugado.

De mim para mim pensava-
Porque choro, ora?

De nada havia que pudesse dizer-
Eis esta a razão de chorar.

Mas chorava, chorei
Chorara já.

Não muito... pouco assim,
lágrimas escorregando lentas, quentes
Com a noite de verão insuportável.

O corpo como um vestido pegajoso
Pegando todos pedaços da pele

E elas escorrendo-
Lágrimas de contra-gosto sem nelas compreender
Razão.

Assim, de lágrimas
Vontade e escrita

Do choro virou poema

Virado nesta queda das palavras que aqui deixo
Como se nesta noite dissera-
Chorava com gosto de as escrever.