quinta-feira, abril 29, 2010

A Ponta-do-Sol

Há coisas que me povoam
Como se fora a sua casa.

As ruas da infância encontram por mim

Os seus caminhos.

Nunca um nostos
Nem saudade.

Gozo, prazer, riso
E essa memória perene de ser-se feliz à beira-mar.

Como o cheiro da sala
E dos retratos oblíquamente pendurados
Na parede
(outrora rosa e hoje amarela).

As crianças multiplicam-se até à infinidade dos dias,
Um infância continuada por cada criança
Do meu sangue.

A ilha, no fim do Caminho Novo.

Como mar e praia feita de ondas pedras amigos e memórias


Há hoje também a música d'ontem
Coisas mais antigas que velhas
("a avó tem as mãos pintalgadas como as bananas doces")
As suas unhas longas polidas
Enterradas no meu cabelo em anteriores caracóis
E uma rosa formosa
Ao embalar-me


Disto direi agora um caminho para casa-
Sem regresso ou retornamento.
Deixamos a nossa casa para irmos para a nossa casa.

A ilha é como se fora em mim uma casa de todas quantas coisas
Ela me traz
Recordando continuamente
A infância que se alarga pelos dias
Banhada no mar de pedras e ondas
Ao som da música antiga
Que cantam para mim as avós.

quinta-feira, abril 15, 2010

Poema de Merlim, Morgana, Artur, Ginevra, Lancelot e da Senhora Igraine, sendo que do primeiro e última aqui não se consta

(ou mais simplesmente Poema dum dia sobre um pensamento hoje miticamente céltico)

Para I., de ascéticos passos druídicos, como prova de que também nasci do mesmo rio Oceano e mesmo entre a coluna dórica, sobre o pateo branco, conheço sua alma irascível de carvalho e onda.

Celebra-me a alma
Nos fogos de Beltane,
Um novo rei Artur

De mito e espada
Uma Camelot inteira
Feita de cartas
Construída de coisas
Paradoxalmente
Irremediavelmente
Sólidas porque assim efémeras.

De Morgana,
Por sobre o lago,
Aguarda o barco
O dia a hora
Da bruma certa
Descerrada
Como de nova Ginevra
Lancelot,
Beijos adúlteros
Novamente adúlteros
Uma outra vez adúlteros

Como um círculo perpétuo
Nas muralhas do castelo
Como um amor
Inefugível
Que nenhuma Excalibur
Poderá, por ora, cortar.

A magia dos elementos
Essenciais
Palavra e Terra
Seiva rasgada dos
Veios carnudos dos carvalhos
Druídicos

Também aqui
Espaço Casa Verbo
Novo sonho, mesmo mito
Como se continuamente
Continuadissimamente
Alguém conjugue em deleite
e como seu
o declinável
Refurjar.