segunda-feira, maio 21, 2007

Anseios de Lisboa ao fim da tarde

Para a Raquel Lemos, a Ana Ferreira e a Migui Carvalho-Salgueiro.

O rio passa lento
Sobre o meu corpo.

Deixei-me afogar
No mar de gente
Que povoa o fim da tarde
Entre as ruas.

Algures as vidas passam
Em minha volta.
Levam o encanto de viver em Lisboa.

Cidade/rio,
Descanso primaveril,
Cavalo, palavra, cerca em aberto.

Grandes arcos
Arqueiam ideias.
Suspiros vagos,
Vivos,
Corpos esperando a
Cidade.
Anseios.

O Sol ainda existe
Atrás das casas.
Amarelas as casas
Nos raios de sol,
Janelas brancas de Lisboa.

Olhar com que se ama o rio,
As janelas,
As pessoas.

sexta-feira, maio 18, 2007

Jogo das coisas ao longo das ruas de Lisboa

Espera pelo fim da tarde, há uma magia na luz que traz. Guarda os olhos bem abertos para a veres.

Lisboa dir-te-á um poema, um consolo, ao ouvido, de mansinho. E há uma sala fresca na elegância dos apartamentos do Saldanha. Lá dentro a tarde escorre pelas paredes brancas da casa. O poema constrói-se em cada divisão: da casa, do corpo, de ti. Uma música chega-nos e o cheiro intenso da cozinha impregna o ar. É o cheiro da vida que chega do pateo de trás. A vida passa-se aí, nos pequenos recantos dos prédios de Lisboa. O cheiro traz-te leves recordações de infância como os acordes de um perfume. A vida é um jogo de peças modeladas pouco a pouco.

Com o fim da tarde tu esculpes a memória até daquilo que ainda não aconteceu. Perdes-te algures nos corredores brancos da casa. Ligeiramente à deriva. Tudo te leva à porta, à rua, à vida. Procura uma esquina do Chiado que te agrade. Saberás dizer que restos aí sobram da vida das pessoas? Para e constrói. Olha atento a vida que desfila à tua frente como uma tela de museu. Há seiva nas coisas, nas pessoas. Nada é estático. Tudo é estético. A vida consumida na elegância de se viver.

Vai. Algures além dum arco Lisboa oferece-se a quem a sabe ver. Algures alguém há-de morrer na cidade. São ainda as peças do teu jogo que se resolve pouco a pouco. Agora deixa-te guiar pelas palavras, ruas secretas, escondidas, oferecendo a possibilidade de sol. Afinal, tu andas contra o fim da tarde. O sol ameaça por-se. O jogo resta por terminar. Tu não descansas. Os olhos continuam deitados sobre as coisas que te envolvem. Buscas a estética perdida das coisas. Crias elos em cadeias que começam a fazer sentido dentro de ti. Quase tudo é natural, como o espanto das coisas sobre elas mesmas.

Lentamente a fadiga acorda-te: as pessoas não param de existir. Quantas peças já recolheste? Agora sabes mais da vida das gentes do que elas mesmas. Tens algo que elas não têm: a atenção por sobre o que passa. A estrada oferece-se longa. Mas é preciso continuar. Entregue às sombras que agora tomam os bocados de todos os recantos não te entregues. Continua. Hás-de chegar à porta da casa. Lá dentro a noite instalou-se. O poema continua a dizer-se ao longo das paredes brancas, é Lisboa que se canta. Senta-te. Espera de mansinho que as palavras que agora moram em ti se venham dizer.

quinta-feira, maio 10, 2007

Os amores da filha do marquês ou Gentil despedida experimentada em rimas

Encanto guardado com graça,
Recato primaveril.
Espanto de tudo o que passa
Em seu viver juvenil.

Cabelos loiros voando,
Vontade amarrada ao cais.
Idos de quem vive amando,
É uma aristocracia que vai.

Talvez regresse na vinda
Tal belo e jovem inglês.
Talvez seja uma história finda,
Os amores da filha do marquês.

Mas espera ainda, gentil dona,
Que em esperar há bem razão.
Pois por certo que a este cais torna
Quem naquele barco te leva o coração.

sexta-feira, maio 04, 2007

Kirsten Dunst


No recentemente estreado filme Homem-Aranha 3 há apenas uma coisa que vale mesmo a pena ver: o desempenho de Kirsten Dunst.


Na sua beleza encantada de mulher petite Kirsten mostra-se mais uma vez como a actriz das pequenas coisas. Nela guardam-se os pequenos sorrisos do quotidiano e os gestos leves que desenhamos sem pensar. Se ela os pensa ou não, não sei e tão pouco me importa. Ela encanta-me e é isso que eu busco nela. Não admira portanto que a actriz seja um dos fetiches da brilhante Copolla que busca precisamente as pequenas pequenezes do quotidiano. E é toda uma naturalidade que nos apresenta em Marie Antoinette (até hoje o seu mais genial desempenho) que continua a oferecer-nos em Homem-Aranha 3 apesar de todas as limitações oferecidas por Mary Jane Watson.


Verdade que Dunst está ainda longe do brilhantismo. Falta saber transpor a sua naturalidade das pequenas coisas para aquelas maiores. Ainda teatrais restam muitas das suas cenas de choro e dor ou de profunda paixão, um cliché americano que acredito seja difícil de largar para qualquer actor. Mas Kirsten lá vai guiando a sua carreira com cuidado, como a delicadeza dos seus gestos, escolhendo um filme aqui e outro ali, ora mais comercial ora menos. Eu continuo à espera que ela me continue a surpreender!


(Não deixem de ver, se ainda não viram, O Sorriso de Mona Lisa e Marie Antoinette, as suas duas melhores actuações)