domingo, abril 29, 2007

Crescendo

Sabes quantas voltas há no recomeço?

Passeiam por mim as horas incontáveis

Enquanto espero viver
Segundos que não acabem.

Reescrevo o sentido da vida.

As águas trazem-me de volta.

Digam-se as palavras:

Pedra, planta, fruto.

A tarde aquece-me
Com inspirações de verde.

Agora busco as ruas
Por onde deves ter perdido a minha poesia.

Lembra-me para não te voltar a dar
Intimidades.

quarta-feira, abril 25, 2007

Poema da espera

Não sei mais que te diga

A não ser esperar por ti

Até que a tarde vire noite.

Amando-nos

Dá-me palavras, segredos, espantos.

Enlaça-me em teus cabelos, cavalos soltos.

Encantos distantes, valsas.

Teu corpo, bocado de terra, país.

Meu corpo, descanso e casa.

Acasala.

Murmúrio, meu ouvido,
Secreto, suspiro.

Inspiro-te,
Teu odor leve,
Tua força bruta,
Tuas mãos,
Tua virilidade tão ferida e aflorada.

Desinquietas-me,
Enfrentas-me.

Nosso amor não é algo sossegado,
Não tem lago,
Nem água.

Destreza das tuas mãos
Prendendo as minhas.

Eu rendo-me,
Tu entras-me.

Quietos
Respiramos.
Os corpos violentos
Inclinam-se, lutam-se,
Perdidos, onde (?),
Ficamos
Amando-nos.

Mediterrâneo

O poema diz-se enquanto a tarde se instala
Através das paredes nuas da casa.

A média-luz do início faz-nos lembrar
Que o branco
É um estado mediterrânico de ser.

O corpo do mar é longo e calmo
E repousa sob o sol
No pátio quadrado da casa da ilha.

Há algures o cheiro novo dos orégãos
E do azeite.
Nas ânforas guardadas na rua
Restam as esperanças antigas
Do dia de amanhã.

As aranhas trabalham desafogadamente,
Enquanto vem a tarde,
No seu labor de séculos.

O sumo das laranjas frescas
Refresca-me.

Tudo é natural e bom
Na tarde branca e fresca da ilha,
Como se as coisas vivessem
Espantadas de ser elas.

Lar antigo dos deuses,
Pátio da eterna recriação,
Viagem à Hélade antiga
Em busca de algo que perdemos
E não conseguimos lembrar,
Memória das tardes brancas do sol.

segunda-feira, abril 16, 2007

Poema do homem bucólico

Às angústias que nestes dias me angustiam.

Ligeiros chegam os fins-de-tarde de Abril
E trazem consigo os primeiros crepúsculos do ano.

Abril fala-me sempre da Primavera,
Dum chão novo
Que os deuses renovam para nós.

Tu és como as manhãs calmas de Sol
Ouves atentamente o que eu digo
Como se as minhas palavras fossem de beber.

Bebes os sonhos que te conto
De coisas distantes que encontras nos momentos
Escondidos das tardes e das flores.

Tu és como o riacho manso e de água doce-
Corres devagar, mas sabes por onde andas
E para onde vais.

Tens uma sede de coisas maiores
Que procuras sofregamente
Saciar nas minhas palavras.

Não percebes que todas as minhas palavras
Cabem em ti;
Em ti onde me esgoto, onde me começo,
Onde me renasço.

Súbita Primavera constante,
Que toldas minhas tardes de uma alegria
Feita de gestos simples e certos,

Como desenhos de crianças quando chega o Sol,
Breves e duradoiros reinos de luz.

Não sabes que sabes das cores
E das coisas que elas ensinam.
Tudo em ti é tão natural e simples
Que não te permites pensar,
Mas apenas viver as coisas,
Os dias,
As horas.

Sabes apenas que queres mais,
Assim como eu sei que te quero a ti.

quinta-feira, abril 12, 2007

Peter Pan

A mim.

Wendy: "Acabaram-se as tuas aventuras, rapaz!"

Peter: "Não! Viver é ainda a maior das aventuras!"