sábado, junho 10, 2006

Midsummer night dream

O teu corpo tem um gosto estranho que provém do facto de beberes shot's sempre sentado nas noites de Junho do Bairro Alto.

Tu sabes beber. E quando digo isto não é com mansidão, mas com carinho nas palavras. Tu bebes com a elegância de se saber estar em qualquer lado, mesmo nas noites mais frias de Junho (que as há!) quando só querias um casaco por cima dos ombros. Ainda assim, não deixas de beber, nunca com exagero, sempre suavemente como alguém que realmente aprecia o que faz e imprime a cada gesto, neste caso a cada gole, a certeza interior dos gestos que são definitivos, porque são importantes.

E o mais estranho, não é o teu corpo erguer-se acima dos outros numa elegância impar em qualquer tasca do Bairro Alto, estranho é como os teus lábios em volta de um copo fazem com que o calor e o frio dessas noites de Junho me excitem mais e mais no desejo do teu corpo.

É como uma bebedeira de muitos shot's bebidos todos de uma vez (o limão só com açúcar, nada de canela, se faz favor), que está longe da elegância deliciosa dos teus lábios suavemente em cada gole, mas que é quase tão gulosa como tu e certamente incontrolável. Fogo do álcool que me queima as entranhas numa ânsia súbita de entrar pelas tuas entranhas e unir os nossos corpos num cio furioso numa esquina estranha do Bairro Alto.

A noite vai-se instalando cada vez mais. Tu sabes beijar, beijas como bebes, com a sofreguião elegante do gole em cada vez que a tua língua busca algo na minha boca. A pele sente o calor, mais forte, mas nunca como num filme porno espanhol. É uma coisa do cinema francês onde numa tela gigante numa língua de suma elegância Isabel Huppert e Catherine Deneuve dançam a dança antiga das damas sedutoras esperando que Fanny Ardant saia do piano para se nos juntar. Beijo-te como se elas se rissem sobre nós com grandes flutes de cristal num champagne precioso.

A noite, sempre a noite, ainda mais a noite. O Junho, tão diferente dos Junhos da minha infância. O calor, tão palpável que era capaz de o engarrafar. Os teus lábios em torno de um copo. A maneira como chupas o limão. E eu de cabeça perdida enquanto anseio por ti e por Junho.

1 comentário:

colher de chá disse...

é o junho do desejo e do amor, é o mais belo copo, na mais bela das mãos. és tu de mansinho a observar o mundo com a delicadeza outonal, são as palavras que escreves.

parabéns. muito bom.