Na sala dos grandes retratos fico esparramado na senhorinha. Isso, essa que está mais junto ao piano. Quem o toca? Já quase ninguém.
As paredes hoje são amarelas, mas já foram cor-de-rosa. Um tom mais claro, conveniente.
São três horas da tarde (bateu há pouco o relógio do escritório): a luz entra pelas cortinas demasiado finas e deixa-nos a todos uma moleza imemorável.
Quase que adormeço.
Quando digo todos falo de mim e de todas as pessoas que estão nos retratos na sala dos grandes retratos. Falo até mesmo daquelas que estão em pequenos retratos.
Mastigo uma broa de mel demasiado dura para ser mastigada. Quando estou quase a rasgar os dentes empurro com um cálice de vinho. Beberrico.
Ao longe, embora cada vez mais perto, há vozes de crianças como em tempos houve a minha ao tempo em que era criança.
Descem o Caminho Novo. Foram ver as folhas caídas no pateo de entrada do Clube. Lá não há estações: é sempre Outono!
Alguém marca uma soma com o sete de copas e o três de paus. É arriscado. Alguém, outro alguém, avança o dez de ouros. Oh, gritos! "Era meu", dizem a rir no quarto ao lado. Ninguém tem menos de oitenta anos.
Já são perto das cinco horas. Os retratos estão quase iguais salvo possíveis variações de humor que me são "presque" indetectáveis. É seguro afirmar que só eu darei por algo.
Levanto-me. Possivelmente adormeci em determinado tempo indeterminado.
Vamos agora embora. Não sem antes dizer os adeuses costumeiros a quem de direito.
Sem comentários:
Enviar um comentário