Debruçado sobre o varandim esvoaçou a mão para afastar o fumo do cigarro.
- Que mariquices! Agora nem na minha varanda posso fumar, perguntou Sara brincando enquanto apagava o cigarro.
- Vês ao fundo? É preciso que nos curvemos um pouco e que empoleiremos aqui a barriga para ver o Tejo. Dói e custa manter este equilíbrio, mas quem pensa nisso assim que vê o rio? O Tejo é tão azul. Hoje como em Agosto. Tem princípio mas é tolo dizer que tem fim. Onde acabará o Tejo?
- Já me fazia falta essa tua maneira de falar. Diz-me um poema, dizes?
- Ao longe é rio e ele vai até ao país das fadas. Porque não podemos lá ir nós também? Vês quantas perguntas faço hoje? Hoje é noite de construir poemas e dir-te-ei quantos quiseres. Porque moras em Alfama e debruçado da tua janela vejo o rio. Isso deixa-me feliz. E deixa-me feliz partilhá-lo contigo porque sabes o que é ter uma janela para o Tejo. Nós temos olhos de ver o país das fadas, não temos Sara?
Sara passou a mão levemente pelo cabelo de Gustavo enquanto lhe dava um beijo no rosto.
- Temos, porque tu e eu sabemos construir palavras de ver coisas d'alma.
A rapariga tinha o braço esticado, o corpo flectido e apoiado no varandim.
- Vês lá longe, aquela luz? Porque não dizer que aí resta o país da fadas?
2 comentários:
um feliz 2009!
no país das fadas existe um lugar chamado coração. Coração Grande, bem pertinho de Alma Voadora. É aí, nesse exacto cruzamento em que vives quando escreves. De lá vês a minha varanda, aquela que contigo partilho menos vezes do que gostaria, aquela que para sempre levarei nos meus bolsos. Para nunca me esquecer como fazes.
um beijo
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