A mulher fala-me. Não é muito bonita, mas é de certa forma elegante. Sorri e acena muito em concordância. Gosta de mim e eu gosto dela como estas coisas se dão entre académicos: gostamos das ideias um do outro.
Ao fundo Anícia Demétrias, ainda com catorze anos, empuleira-se no vão da escada e deixa cair pelo grande fosso a carta de São Jerónimo. A avó, matrona grave, olha-a em repreensão. A criança quase freira sorri mostrando por trás do véu da castidade uma beleza louvável no mundo dos vivos. Sexto Cláudio, espreita-me do alto, soberano, enquanto Hermoginiano acompanha o homem que vem confirmar que é real tudo aquilo que se passa.
A mulher e o homem falam e combinam coisas e acertam pormenores, meio alheios à minha existência, enquanto a decidem. Não podem ver a agradável corte que os cerca. Anícios e Petrónios do antigamente, ainda meio apagados, ainda meio etéreos. Hermoginiano já está de novo ao lado dos pais, espreitando-me do cimo das escadas. Vieram todos e espreitam com o seu ar desconfiado de romanos o rapaz que lhes faz promessas. Só Demétrias não está com eles, ainda empoleirada no vão da escada. Escorrega por ele e desce com graça os últimos degraus. De súbito, a sua mão no meu ombro. Pouco antes de acordar olho-os a todos e ouço dizê-la ao meu ouvido "Agora, dá-nos voz!"
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