terça-feira, outubro 28, 2008

Estória das duas cidades com rio ou Conversa entre coisas que nos rodeiam

Para Ana Garcia e Sara Borga, porque me inspiram .

A. senta-se numa cadeira perto do lago. A. descobriu agora a vida em Lisboa e isso entusiasma-a. Este é um prazer conquistado: A. senta-se numa cadeira do Relógio d'Água com uma fatia de bolo. O jardim Amália Rodrigues é agora um dos seus sítios preferidos. Há gente e vida assim como ela queria que houvesse. As pessoas têm em geral um ar feliz e o jardim é quase sempre verde. Outubro é agora escaldante nas suas tardes. E isso agrada-a. Ver as coisas acontecerem fá-la sentir que faz parte delas. A. está sentada na sua cadeira mas viaja em torno de si e dos outros.

Enquanto, S. lembra-se de Lisboa e do jardim Amália Rodrigues dos tempos em que morava no Bairro Azul. Era mais nova, mas já tinha os olhos abertos. A mãe levava-a a passear pelo corredor verde. Uma bicicleta ocasional parece-lhe agora ridículo, como antes lhe parecia fantástico. Em Gent, frente ao rio, são várias as bicicletas, todas ocasionais, porque para todas as ocasiões. Outubro tem agora tardes enregelantes enquanto S. se habitua aos rigores do Norte. Os gestos são uma chamada de atenção constante e S. deixa-se levar. Desenha incessantemente para captar a vida da pequena cidade à sua volta. Porque nas tardes de Outubro S. tenta entender a vida da cidade enquanto se senta numa café junto ao rio.

A. e S. têm normalmente vidas distantes. Partilharam uma vez algumas palavras e uma peça de teatro, uma tarde no São Luiz. A. e S. amam a vida da cidade e têm sede. A sede fá-las procurar novas nascentes. No metro, ou a caminho da faculdade numa bicicleta. Na aula de economia financeira ou frente a uma tela. Ao som dum cavaquinho ou ao som de qualquer que seja o instrumento típico dos belgas. A. e S. dão saudades porque vão fazendo a vida loge de mim, mas sobretudo guardam em mim esperanças de outras sedes.

1 comentário:

Anónimo disse...

e s. desenha como ninguem*
Abraço
f.