sexta-feira, setembro 19, 2008

Pois que a eles já ninguém os rouba!

Entre os tantos tipos curiosos de gentes que o nosso país tem produzido entendo que resta falar de um a que se tem prestado pouca atenção. Falo do madeirense, esse tipo tristonho e insular a que vamos dando lugar de baixa monta.

É bem verdade que em quase nada se apresenta como um tipo de excepção: passa a vida bilhardando e resondando; não sendo introspectivo é bem virado para si; cultiva um certo tipo de mesquinhez que talvez valesse a pena estudar. Mas o que importa realmente no madeirense, o que o faz digno de nota e da escrita é a sua arte superior de evitar ladrões. Pois que o amigo mais céptico não se pasme que juro falar verdade. Descobriu o madeirense essa fórmula mágica, que o resto do povo português tanto almeja, de evitar a ladroagem. Não os pequenos entenda-se, que em se agarrar punhados de grãos de areia sempre escapa este ou outro, mas os grandes que são afinal quem importa porque roubam a valer. Senão, vejamos como o fazem.

Como vimos imediatamente há assim dois tipos de ladroagem: essa da arraia-miúda, antes com uns furtos e uns assaltos às bombas de gasolina, hoje já mais evoluída com direito a car-jackings e assaltos a bancos com reféns e tudo; aquela a que tantos chamam política, mas que na verdade não se fica por aí, pois qualquer tacho em Portugal, ainda que indirectamente ligado à política, já é bom para exercer a ladroagem. A primeira para o povo, a segunda para os espertos. E a única maneira de superar estes segundos é ser-se ainda mais esperto que os espertos. E aquilo que tem levado anos e anos aos teóricos políticos a descobrir descobriram-no os madeirenses logo nos primeiros anos da sua democracia. Qual é pois o grande motor da ladroagem dos tachos? Ora, é mais que claro: a rotação dos cargos. Ora se dá quatro anos de comer a este, depois tu esperas mais quatro enquanto eu lá vou, que a seguir já te vens encher outros quatro. E o madeirense há trinta anos que começou a acabar com isso. Primeiro, nunca mudou de Presidente Regional e conferiu-lhe sempre, em voto democrático, livre e secreto maioria absoluta. A maioria absoluta serve dois propósitos: num primeiro tempo de poder permite roubar tudo quanto se quer; num segundo tempo permite afastar esses rufiões que depois de verem os outros com a pança cheia também querem então ir encher a sua. É que se o madeirense descobriu como por fim à ladroagem, não descobriu nem descobrirá como se põe fim aos ladrões. Mas voltemos ao assunto que nos ocupa e que louva o tipo do madeirense. Depois de garantir o mesmo Presidente Regional ocupou-se o madeirense de uniformizar nos seguintes vinte anos todas as autarquias do arquipélago sobre uma mesma bandeira. Se essa é a bandeira regional ou a bandeira do PPD-Madeira é assunto de pouca monta, que afinal do amarelo ao laranja vai uma pinga de vermelho, que até serve para não virem dizer que não à esquerdismo na ilha.

E agora pensa o bom leitor que esse tipo fantástico que é o madeirense, a quem todos deviam estar gratos pela sua descoberta, viva na sua ilha olímpica uma paz dos deuses. Desengane-se então, pois que há coisas que não se mudam, como vimos. O madeirense, apesar de não se lembrar muitas vezes e de não o querer outras tantas, ainda é português. E ao povo português não se pode tirar um fado que se chore. Não, o povo da Madeira cá continua bilhardando e resondando políticios, ganhos e custos. Lá vai, num canto do autocarro queixando-se disto ou daquilo com a frase sempre generosa que ocupa a ponta dos beiços de todo o português: "isto vai mal!" frase que requer ser dita de maneira séria, pensativa e até filosófica como uma verdade assertiva ao jeito de Atlas que leva o mundo sobre os ombros. Mas ai daquele que se insurja contra o Governo Regional. Aí o madeirense não perdoa! Pois que rouba? Ora se vier outro rouba tudo de novo e este ao menos já roubou tudo quanto tinha a roubar. Pois que é mentira? Então um homem que podendo morar no belo palácio da Quinta Vigia abre antes os jardins do paço ao público e para mais de quarenta anos mora na sua pequena casa e não faz férias senão no Porto Santo. Um homem que só melhorou a Madeira e a rasgou de estradas e furados! Pois, que um homem destes mesmo que roube é santo, que os santos também são homens e lá têm tentações e seus pecados. E ao madeirense parece pouco preço a pagar pelo grande homem que em todas as eleições sentam de maneira livre e democrática na cadeira do poder.

Felizes madeirenses, atentados com tantos tormentos, que ao menos perderam esse de serem roubados em grande ladroagem. Que importa a liberdade de expressão, que importam as tramóias na função pública, ou caciquismos e clientelismos? Que importa que a isto outros chamem ditadura se ao madeirense é a democracia que melhor lhe convém? Pois paga-se tal preço para que não lhes roubem os bolsos, que esses que roubam são cubanos do lado de lá do mar, que a Madeira até vai mal e sem dinheiro que a culpa é deles e não do madeirense. Que importa se o País não deve temer ladrões, pois porque há-de temer ladrões um país que já não tem nada que roubar? Ora não senhor! O que importa ao madeirense é que lhe deixem o bolso quieto que a sexta-feira chega sempre e fim-de-semana é tempo de gastar e haja dinheiro para ser gastado sem que ninguém o faça desaparecer. Que depois segue-se a segunda onde enfiado nos bancos de autocarro lá vai o madeirense no canto culpando o cubano e afirmando a verdade máxima e última que tudo vai mal.

Isto o que Portugal precisa, e o madeirense já descobriu, é de António de Oliveira Salazar que esteve lá quarenta e poucos anos e nunca roubou tostão que fosse. Esse sim havia de guiar os destinos da gloriosa democracia lusitana a belo porto!

1 comentário:

Anónimo disse...

Viva el-rei Salazar! Viva!