Esperamos pacientemente as visitas do almoço.
Desde as onze horas da manhã que povoamos a cozinha de
Cheiros, sabores e manchas nas bancadas de pedra branca.
A habilidade com que a mão segura a faca que habilmente corta
Legumes, despedaça frangos e esmaga alhos
Convenientemente odoríferos para nos fazer ansiar a passagem das horas.
Procuramos com cuidado os melhores cristais, porcelanas, linhos.
Repetimos um ritual de mesa na segurança que nos liga ao passado
Às coisas certas, às certezas indubitáveis daquilo que somos
E do que nos define.
Cumprimentamo-nos lentamente, beijos com economia planeada
Com sorrisos aprendidos na infância e reservados aos íntimos,
Os que ocupam o topo da hierarquia dos afectos.
Aprendemos cedo os lugares do mundo, das coisas, das pessoas,
Os teatros medidos dos gestos.
A casa resta no seu conforto urbano de classe média,
A elegância de varandas viradas para o Tejo
E de grandes salas luminosas e bem iluminadas
Onde pacientemente esperamos as visitas do almoço.
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