Diz-me um fado, um canto lento. Uma história do quotidiano. Quantas janelas tem Alfama enquanto o sol se põe? Umas abrem-se, outras fecham-se.
Ruas de Lisboa onde as perdesse, por elas ande perdidamente em busca de algo que chega até ao Tejo.
Cidade, mulher, como se fosse vida, como se fosse coisa com alma. Breve jóia, breve espanto de passar momentos duma tarde olhando-te do jardim do Príncipe Real.
Chãos de Belém, além o rio. Mar de casório com cheiro próximo de sardinhas a assar na brasa.
Escadarias de Lisboa onde diga Santos, Graça, Alcântara, Chiado. Para onde nos levam quando já nem os passos nos guiam? Eis janelas que se abrem enquanto passo pelos passeios estreitos da cidade. Cada janela é uma pequena vida. Quantas hão de passar ainda pelo caminho?
Lisboa sem noite, só em luz, possa eu dormir enquanto me velas. Quieto e manso, de mansinho conta-me histórias de vidas que há dentro de cada varanda da Mouraria.
E diz-me um fado, calmo e não calado, essa coisa lusa que vem de dentro e que aperta mais nos terraços da cidade quando a noite caí e traz essa outra luz.
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